Em “A Batalha da Borracha”, Francisco Eleud Gomes revela a história social que interligou o Nordeste à Amazônia até 1970
Dividido em três capítulos e 166 páginas, o livro reúne antecedentes políticos, econômicos e sociais para contextualizar a chegada e a vivência dos “soldados da borracha” nesta região
Com uma investigação pautada em grandes nomes das Ciências Sociais e da História e uma metodologia que combinou história oral, análise documental e pesquisa bibliográfica, o historiador e egresso do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas (PPGSCA/Ufam), Francisco Eleud Gomes da Silva, entrega apuração consistente e análise interpretativa em ‘A Batalha da Borracha’. A obra deriva de sua dissertação, defendida em 2015, na qual o pesquisador abordou o contexto da migração cearense para a região amazônica no período situado entre 1939 e 1970.
Lançado agora em 2025 pela editora CRV, o livro sintetiza ao longo de 166 páginas as principais conclusões do trabalho acadêmico a partir de uma linguagem mais acessível ao leitor, que pode adquiri-lo tanto no formato impresso quanto na forma de e-book. A sinopse apresenta o trabalho como uma abordagem original do tema, sustentando que, apesar da relevância, ele ainda teria pouca visibilidade no âmbito da pesquisa. Seu objetivo, segundo os editores, é “demonstrar a conexão entre o Nordeste e a Amazônia no imaginário e na política nacional [a partir de] abordagem objetiva e linguagem clara, [denunciando] o abandono institucional, o silenciamento histórico e a invisibilidade desses trabalhadores, ao descrever a contradição entre a retórica patriótica e a prática de exploração”.
A obra está dividida em três capítulos, mas é logo na apresentação, no prefácio (escrito pelo professor da Ufam Raimundo Nonato Pereira da Silva) e nas considerações iniciais que o leitor começa a entender o que foi – e como foi – a “Batalha da Borracha no Amazonas”. Cada um dos capítulos destrincha um aspecto relevante para a compreensão daquele fenômeno histórico, social, político e econômico situado entre o fim dos anos 1930 e o ano de 1970.
As políticas públicas de migração empreendidas pelo governo de Getúlio Vargas durante o Estado Novo dão o contexto no primeiro capítulo da obra. O enfoque, no entanto, é para os processos de recrutamento e exploração de mão de obra sob a ótica do desenvolvimentismo. Já o segundo capítulo, o autor focaliza na Amazônia, ao discutir, por exemplo, a dependência estadunidense na borracha aqui produzida logo após o ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, e os projetos desenvolvimentistas implantados pelos militares na região.
No capítulo terceiro, Francisco Eleud finalmente imerge na questão social associada às decisões de ordem política e econômica trabalhadas nos dois anteriores. Aqui, ele trata, por exemplo, dos dramas sociais vivenciados pelos seringueiros e de alguns casos judicializados por esses trabalhadores contra os seringalistas. O autor também se debruça sobre a analogia utilizada à época para recrutar os trabalhadores, demonstrando as diferenças entre ser um “soldado da borracha” e ser um “soldado das forças armadas”.
Ainda nesse capítulo, o livro explica o “sistema de aviamento”, um mecanismo utilizado pelos seringalistas para explorar as pessoas que chegavam aos seringais em busca de trabalho. O aviamento consistia, grosso modo, no fornecimento de mercadorias, alimentos e crédito (pequenas quantias emprestadas) pelos seringalistas aos seringueiros. Os preços elevados e os juros sobre adiantamentos mantinham um sistema de trabalho forçado, pois o valor pago aos trabalhadores pelo látex extraído das seringueiras nunca era suficiente para quitar os débitos com o seringalista, que também era o dono das “casas aviadoras”, estabelecimentos onde esses negócios eram feitos.
Sobre o autor
Possui graduação em História pela Universidade Federal do Amazonas (2002) e Mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (2015). É servidor técnico- administrativo em Educação na própria Ufam, além de ter experiência nas áreas de História e Pedagogia, com ênfase no tema das migrações.
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