Palestra de abertura do XXIII Seinpe destaca integração entre ciência, educação e tecnologia na Amazônia
A tarde da última terça-feira, 23, marcou a abertura oficial do XXIII Seminário Interdisciplinar de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Seinpe), com a palestra inaugural “Ciência, Educação e Tecnologia: A Amazônia nos conecta”, ministrada pela professora doutora Tanara Lauschner, reitora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). O evento, que ocorre de 23 a 26 de setembro na Faculdade de Educação da Ufam, integra também a I Feira de Inovação, Ciência e Tecnologia da Educação do Amazonas (I FICTEA).
Durante sua exposição, Lauschner destacou a necessidade de protagonismo local na produção científica. Segundo ela, a ciência e a tecnologia desenvolvidas na Amazônia devem contar com a participação direta de pesquisadores da própria região, tanto na formulação de projetos quanto na execução de pesquisas e coleta de dados.
A reitora também abordou o chamado “custo amazônico”, conceito que evidencia os desafios estruturais da região Norte frente a outras partes do país. “Realizar ciência e tecnologia aqui é muito diferente de fazê-las no Sudeste ou no Nordeste. Nossa realidade geográfica é única: temos um território imenso, pouco ocupado e com grandes dificuldades de transporte, energia e internet. Isso significa que precisamos de mais recursos para executar pesquisas semelhantes, mas, paradoxalmente, somos a região que menos recebe investimentos”, explicou.
Ela lembrou que, historicamente, apenas cerca de 5% dos recursos nacionais para ciência e tecnologia chegam à Amazônia. Para enfrentar essa desigualdade, destacou avanços recentes, como a transformação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em fundo financeiro e a criação do Programa Pro Amazônia, que destinou bilhões de reais a projetos estruturantes. “Esse programa trouxe algo essencial: redes de pesquisa coordenadas por instituições da região, fortalecendo nosso protagonismo e garantindo que as decisões sobre o que pesquisar partam daqui”, ressaltou.
Outro ponto de destaque foi a biotecnologia associada à biodiversidade amazônica. Para Lauschner, o desenvolvimento científico precisa caminhar junto com a valorização dos conhecimentos tradicionais e indígenas. “Temos a maior biodiversidade do planeta e precisamos transformá-la em oportunidades de desenvolvimento socioeconômico para nossas comunidades, sem abrir mão da preservação da floresta. Isso só será possível se unirmos a ciência formal ao conhecimento ancestral da região”, afirmou.
A reitora também refletiu sobre os impactos da inteligência artificial (IA), que, segundo ela, pode acelerar pesquisas em áreas como biologia e biotecnologia, mas traz novos desafios. “A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa para impulsionar a ciência e a inovação, mas precisamos discutir a soberania digital, a origem dos dados e, sobretudo, o alto consumo de energia envolvido. Os países que não investirem em IA vão ficar para trás em termos de desenvolvimento científico e econômico. Mas esse investimento precisa estar aliado a soluções de energia limpa e sustentável”, destacou.
Após a palestra, Tanara Lauschner foi homenageada com a entrega de um quadro contendo um retrato seu, produzido pelo professor José Mario Silva de Oliveira, coordenador acadêmico da Faculdade de Artes da Ufam. O gesto simbolizou o reconhecimento da comunidade acadêmica ao trabalho e à trajetória da reitora.

A reitora abriu oficialmente a programação científica do Seinpe, que contará com oficinas, rodas de conversa, apresentações de trabalhos e pôster digital, além da realização da I FICTEA. O evento segue até sexta-feira, 26 de setembro, reunindo docentes, pesquisadores e discentes em debates e reflexões sobre os desafios e as oportunidades da educação e da ciência na região.
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